terça-feira, junho 19, 2007

Como desactivar uma bomba catalã

(o seguinte post baseia-se num episódio verídico que podia servir de guião a uma curta-metragem com o mesmo nome do post. Partilho-o porque foi dramático e apaixonante como é a bola que por aqui passa)

Sucessão de ocorrências:

O Real Madrid e Barcelona encontravam-se empatados em pontos à partida para a última jornada da La Liga. O RM tinha vantagem no confronto directo e o Sevilha encontrava-se apenas à espreita, na necessidade de ganhar e esperar a derrota dos dois colossos do futebol espanhol.

Um emigrante temporário em Barcelona encontra-se na necessidade de voltar ao seu país numa hora da madrugada que promete bloquear com euforia todas as vias da cidade se o Barça eventualmente conquistar o título. O segundo imigrante (fixe) teme em aconselhá-lo em relação a qual seria o melhor plano de fuga.

O que se segue sucede-se no espaço de sensivelmente 110 minutos:

00:00 / 45:00 O Barcelona cedo começa a cilindrar o lanterna vermelha que defrontrava, enquanto que o Mallorca conseguia marcar um golo em Madrid que, temporariamente, colocava o Real fora do lugar de topo

O intervalo suscita mais interrogações entre os dois imigrantes que se perdiam entre "papas bravas" e uns calamares absurdamente caros.

Pelo minuto 51 dos jogos o imigrante residente decide ir ao WC e aquele que vos escreve pedir a "cuenta" para preparar a sua fuga até ao aeroporto, tal era a rumo das coisas a favor do Barcelona e o terror das memórias recentes de videos registados quando o clube catalão conquistou a Champions.

Eis que o volte-face se verifica:

Entre o tasco e a casa onde se encontravam as malas, o Real Madrid empata e fica a apenas um golo de se sagrar campeão.

As dúvidas acumulam-se, assim como a tensão. Depois surge o momento poético e o twist da história: os dois protagonistas encontram-se à beira da Avenida Parallel em busca de um taxi quando se ouvem os festejos de um golo cuja autoria para eles era incógnita. Ouvem-se estoiros (o que é praticamente banal em meados de Junho em bcn) e um foguete estoira no ar. Em mise-en-scéne: o Real Madrid tinha passado para a frente do marcador com o 2-1.

Já no taxi ouve-se o relato e o registo do 3-1. A sensação mista de alívio e de tédio antecipado face às horas de espera pelo avião num banco de metal nem sempre amigável para o rabiosque.

No preciso momento em que o taxi pára diante do aeroporto, o Real Madrid é declarado campeão e ouvem-se algumas buzinas. O taxista sorri por efeito do resultado e do dinheiro que lhe pagava a corrida. Pelas costas, a certeza de que a festa catalã já tinha durado três dias que não chegaram a ser quatro por obra da reviravolta em Madrid. Uma enorme bomba atómica de euforia pelas costas e 110 minutos dos mais emotivos que viveu este vosso escriba.

2 comentários:

Rhodes disse...

Soube disto pelo nosso representante catalão, só tu meu...

Kata disse...

No meio de uma cidade à beira de explodir, a dúvida sobre o que fazer foi a única certeza... contentores incendiados (como mais tarde cheguei a ver acompanhado do meu caro Balakost que já está habituado a estas coisas de não ganhar campeonatos...), torpedos sem direcção, bombas em cada esquina. E o relógio destas em contra-corrente. Havia que agir rapidamente. Inspirados pelo ídolo de infância, Mcgyver, fizemo-nos a uma passadeira. Taxi!! Exclamámos em uníssono. E Ala (Madrid). A decisão não esteve em concordância com o sucedido, mas quando se trata de salvar o pêlo qualquer sacrifício é privilégio....